quinta-feira, 26 de maio de 2011

A tentativa de manipular o Sagrado


Segundo Von Rad, quando fala da “atualidade da idolatria”, nós, cristãos, corremos o risco de configurar Deus a nossa imagem, de crer em mitos e adorar imagens. Os sistemas religiosos tendem a atar as mãos de Deus. E quando pensamos estar adorando verdadeiramente ao Deus único, estamos prestando um culto ao ídolo que fabricamos.

Israel queria manipular Deus por causa do episódio do Êxodo. Queriam abusar do privilégio que tinham, do cuidado que Deus tinha por eles. Deus os tirou da escravidão do Egito e agora eles tinham uma falsa segurança. O profeta Amós denuncia este sentimento de privilégio que Israel tinha. Deus falou através do profeta que da mesma forma que Ele os tinha tirado do Egito, Ele também havia tirado os filisteus de Creta e os sírios de Quir. (Am 9:7) O que Deus queria mostrar para o seu povo é que não adiantava ter o conhecimento de quem eram, o povo escolhido, e terem confissões de fé. Deus queria que eles vivessem de acordo com suas confissões.

Também quando Deus faz uma aliança com seu povo, Israel se sente novamente muito privilegiado e não teme os castigos de Javé. O povo entendia que aquela aliança era um compromisso incondicional, podiam fazer o que quisessem, Deus continuaria sendo sua segurança e a aliança não seria rompida. Mas Deus os chama a atenção dizendo que se Ele havia escolhido aquele povo dentre todas as nações da terra, então pediria conta a eles. (Am 3:1-2)

Outra forma de manipulação de Deus era o templo como espaço sagrado. Em momentos de tensão o povo depositava sua credibilidade no templo do Senhor, acreditando que ele garantiria a segurança de Jerusalém. Os judeus entendiam o templo como um covil de ladrões, onde as pessoas podiam se refugiar depois de terem roubado ou cometido algum crime.

O profeta Jeremias joga por terra esta falsa esperança e Deus não tolera esta mentalidade de seu povo, porque Deus não se compromete com espaços físicos e sim com a conduta das pessoas. Deus diz o povo queimava incenso a Baal, roubava, adulterava, seguia os deuses estrangeiros e depois entrava no templo dizendo que estavam a salvo. Deus disse para eles atentarem para o que havia acontecido com o templo de Siló, que Ele havia destruído por causa da maldade do povo. (Jr 7:1-15)

Os contemporâneos de Amós esperavam confiantes no Dia do Senhor, o dia em que Ele se manifestaria de forma grandiosa e exaltaria o seu povo, este pensamento carregava uma série de privilégios e falsas esperanças. “Ai dos que anseiam pelo dia do Senhor! De que vos servirá o dia do Senhor se ele é tenebroso e sem luz?” (Am 5:18)

O cristianismo contemporâneo não difere muito desta realidade. Estamos cada vez mais íntimos do determinismo para Deus e omissos para com nossa responsabilidade de povo chamado. Deus não nos isentará de nossas obrigações como servos nem tampouco aceitará o estilo de adoração que oferecemos como barganha. Ao idealizarmos um Deus à nossa imagem e semelhança levamos para o mundo a idéia de um Deus que está mais interessado no aqui e agora e que se deixa manipular por filhos sem conhecimento. Mas Deus continua tendo o domínio das situações e sempre nos chamando para a conscientização do que temos feito e sua repercussão na sociedade.
Hev



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