quarta-feira, 18 de maio de 2011

Prometeu e o nosso imediatismo


Eugene Peterson, autor de Um Pastor segundo o coração de Deus acredita que a melhor narrativa para expressar a mudança trágica que houve na humanidade, da perda de limites e desrespeito aos “deuses” foi escrita por Ésquilo, o mito de Prometeu. Muito utilizado pelos antigos como forma de advertência sobre o poder, e perdido ao longo dos anos, pois a nossa sociedade apregoa cada vez mais uma vida sem limites, fugindo da compreensão trágica das coisas.

Prometeu, era um dos deuses do Olimpo. Ele não se conformava que os humanos pudessem conhecer o dia de sua morte. Pois vivendo assim, eles não tinham muitas ambições e criavam em suas mentes um grande limite marcado no calendário. Irado com Zeus, ele fez com que os mortais não soubessem mais o dia de sua morte, colocou nas pessoas esperanças sem limites e roubou o fogo dos deuses e deu aos homens. Agora eles não sabiam mais quando iam morrer, faziam planos e tinham projetos para o futuro. Tinham sonhos absurdos e cegos. Não tinham mais noção de fim. Estavam seguros de si, e não precisavam muito dos deuses, pois agora possuíam o fogo e podiam criar o que quisessem. O homem foi se tornando cada vez mais independente e seu avanço tecnológico deu-lhe cada vez mais poder. Zeus irou-se com Prometeu e acorrentou-o numa rocha e todos os dias ele era ferido pelas aves. Mas Prometeu não se arrependia de seu feito.

Peterson observa que Prometeu deu aos homens toda a tecnologia dos deuses, mas não a sabedoria. O homem foi se perdendo cada vez mais em seus próprios desejos absurdos e cobiças. A intenção de Prometeu pode ter sido das melhores, no entanto, deu-lhes uma liberdade quem eles não estavam preparados para receber. E, como todos que se oferecem e se dedicam ao outro, sofreu conseqüências danosas todos os dias.

Muitas vezes nós queremos ser a resposta imediatista das pessoas, proporcionar a elas aquilo que elas dizem precisar, solucionar seus problemas, dar a elas prontamente aquilo que está ao nosso alcance. Mas nos esquecemos que Deus tem um trabalhar pessoal na vida de cada um e nós não sabemos qual é o tempo de Deus para elas. Acabamos por incentivar o imediatismo e a superficialidade. Nesse sentido, a oração fica sem lugar, pois, Deus não nos responde quando queremos, mas no tempo Dele. Então as pessoas recebem orientações concisas, que têm um efeito paliativo e de manutenção. A dor passa por alguns instantes e quando volta, já está estabelecida a relação de dependência entre elas e nós.
 
A oração é um ato de disciplina, espera e perseverança. Por mais que nosso coração seja solidário, existem coisas que não cabe a nós fazer e devemos conscientizar as pessoas de sua fragilidade e de que o amanhã pertence a Deus, firmando a idéia de limite. Quando nos desfazemos da tensão de ter que libertar as pessoas, ficamos livres para andar lado a lado com elas, num movimento de cura que atende a vontade e tempo divinos.
Hev

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