quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Deus que dá vida no deserto

Fala-se muito de deserto em prédicas. No deserto “o povo libertado tem de libertar a si mesmo, para entregar-se a Deus na aliança” (SCHÖKEL). É um lugar onde se testa a esperança, onde se retira para orar, onde se precisa ter a noção de grupo e saber lidar com o outro para sobreviver, onde não se pode parar para estabelecer morada fixa, é lugar de feras e escuridão, frio de noite e calor intenso ao dia. Ali Moisés se encontra em EU SOU e recebe uma responsabilidade (Ex 3) e João Batista clama em tom profético o arrependimento. (Mt 3.2)

Jesus após o batismo, cerimônia de justiça e sinal de purificação, poderia estar no deserto com mais alguém como no Getsemâni, momento difícil, mas foi guiado sozinho pelo Espírito. O texto diz que o Espírito levou-o ao deserto “para ser posto à prova pelo Diabo” (Mt 4.1). Havia um propósito naquilo, Jesus é provado como todos os homens. Sozinho, ele fica entre sua carne, suas emoções, a falta de convívio com outras pessoas e tem apenas a Deus para falar. O Diabo aguarda com paciência o momento oportuno para abordá-lO.

Quando Schökel fala que o povo libertado devia se libertar de si mesmo, fala do povo guiado por Moisés. Não adiantava ser apenas liberto do Egito, o Egito precisava se despedaçar dentro deles, e eles não queriam isso, estavam apegados demais às práticas e vida anterior. A maior libertação não era sair de um lugar como escravos e ir para outro como povo eleito, mas verdadeiramente pensar e agir como povo eleito. O status não bastava, eles precisavam ter um encontro verdadeiro com Elohim.

Erich Zenger em O Deus da Bíblia, p. 11-29 se refere a Deus como “o Deus que dá vida no deserto”, ele possibilita vida em meio às condições externas e contrárias. Javé faz com que Israel colha a porção que cai do céu “a cada dia” (Ex 16) provando assim a confiança no suprimento; desce para falar e entrega a tábua com decálogo no Sinai para “estar perto do seu povo como aquele Deus que impede a destruição ameaçadora.” Ele é o Deus encontrado justamente no caminho e não fora dele. Deus não estava reservado para a terra prometida, mas estava andando com Israel e se revelando no caminho. “Deus preenche toda a criação e, no entanto, ele não está preso a lugar nenhum e não está cercado por coisa alguma.” 

Javé deixa o povo eleito andar e andar. Supre suas necessidades, mas os deixa andar. Era preciso olhar para dentro de si, para avaliarem seus desejos e decisões e alcançar nova identidade em EU SOU. Não vamos parar no deserto para pensar em alguém, interceder dias a fio por um doente nem apenas com intuito de crescermos estritamente no campo espiritual, mas para olharmos para nós mesmos e lidarmos com quem somos intimamente.

No deserto cria-se responsabilidades, assume-se dependência total de Deus, percebe-se quem é de verdade e qual o potencial para sobreviver às lutas. Quem tenta adiá-lo, não consegue firmar os passos. Deus nos faz ficar humildes e conhecer melhor nossas forças e dificuldades. Mais do que tudo vemos quem somos diante de Deus, porque no cotidiano vemos com facilidade quem somos diante do trabalho, dos relacionamentos, dos planos, etc. Mas no deserto, muitas coisas ficam em segundo plano e Israel, sem saída, chega ao ponto que Deus queria: dependência total. Quando se está num leito de hospital pouco importa ter reprovado um semestre na faculdade, a dor incomoda mais.  

Se você passa por alguma luta, não recue. Nem tampouco adie o momento de olhar para si mesmo diante de Deus, porque é só assim que nos conhecemos de verdade. Não querer aceitar a luta é insegurança e enganar a si mesmo com outros artifícios. Se você ama a Deus, sabe que Ele é o Deus do caminho que anda com você. Existe um propósito nisso e Deus deseja que você não fique dando voltas, mas estabeleça uma aliança de amor com Ele, de maneira que suas feridas sejam curadas e você encontre sabedoria para decisões.
Hev




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