segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Estar só...

O salmista se sente só e abatido. Ele olha para os lados, mas, não encontra refúgio (Sl 142). Jorge Camargo, músico e compositor brasileiro, em Som do Céu canta que do silêncio da escuridão, o amor de Deus o libertou. Sua vida explodiu em profusão e a incomparável sinfonia de Deus, nele se iniciou. Em Quando se está só, letra de Sérgio Pimenta, ele canta: "quando se está só, o silêncio é mais profundo, as noites são mais longas [...] e até a própria sombra parece estar mais junta." Termina a música dizendo que quando se está só, se está porque deseja, "pois Ele, com certeza, não foge de ninguém".

 Na Bíblia a solidão sempre teve um propósito. Deus ama o ajuntamento. Existem momentos que o mais apropriado é retirar-se, reciclar-se, ouvir o silêncio que entra na alma, pôr os quadros das paredes do nosso coração no lugar depois da tempestade. Outros momentos somos conduzidos como Cristo ao deserto para sermos tentados e aprendermos o valor da vigilância. 

Aprendemos. Encontramos diferença entre a solidão e solitude. Revisamos o papel das emoções e o peso da sabedoria. Tudo está mais calmo para ouvir Deus. 

Algumas vezes só nos tornamos completos quando estamos sós- com um propósito. Não se aprende a ouvir as pessoas, sem que se saiba entender, respeitar, valorizar e controlar suas próprias opiniões. Num momento que parece ser de extrema pobreza, é quando as maiores riquezas brotam do seu coração.
Hev


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Oficialmente velho

Leonardo Boff, Oficialmente velho

Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira.
Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas.
De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às lágrimas.
Mas há um outro lado, mais instigante.
A velhice é a última etapa do crescimento humano.
Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino.
Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer e, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer; quando então entramos no silêncio e morremos.
A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer.
Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: "NA MEDIDA QUE DEFINHA O HOMEM EXTERIOR, NESTA MESMA MEDIDA REJUVENESCE O HOMEM INTERIOR"(2Cor 4,16).
A velhice é uma exigência do homem interior.
Muitas vezes perguntamos: Que é o homem interior?
O homem interior é o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical.  Identidade esta que devemos encará-la face a face.
Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe.
Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis:
Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, (inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano), submetido ao "silêncio obsequioso" e outros papéis mais. Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Quando então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos:
Afinal, quem sou eu?
Que sonhos me movem?
Que anjos que habitam?
Que demônios me atormentam?
Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério?
Na medida em que tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior e a resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do Inefável.
Este é o verdadeiro desafio para a etapa da velhice.
Então nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina.
Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida.
Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria.
É ilusão pensar que esta sabedoria vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.
Por fim, o que importa preparar o grande Encontro.
A vida não é estruturada para terminar na morte, mas para se transfigurar através da morte.
Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia.
Aí saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.
Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: "contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade".
Por fim, este jovem ancião alimenta dois sonhos: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa:
"eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver". Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus.
Parafraseando Camões, completo: Mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.


Os textos de Boff sempre trazem uma ótima reflexão. Sempre me sinto "refazendo" quando leio. Este texto foi extraído do blog Recanto das Letras.
Hev

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O exercício de perdoar

Hoje na hora do almoço vi um jornal que cobriu o caso do menino de dez anos que morreu atingido por uma bala perdida na Serra. No velório do menino, sua mãe disse que perdoava as pessoas envolvidas na morte de seu filho. Ela disse que não adiantava agir de outra forma porque ela não espera nada da lei dos homens. A lei de Deus é a que não falha. E ainda falou com toda serenidade que esperava que estas pessoas se arrependessem. 

Esse é o Evangelho genuíno, um Evangelho que nos salva de nós mesmos. Nos liberta para o impossível. Eu não consigo nem imaginar uma coisa dessas, mas é quando o "símbolo supremo" que John Stott fala nos distingue dos outros. Este símbolo é o amor. Que é maior que a fé, a experiência, conhecimento e o serviço (I Co 13.1-3). Um coração cheio do amor de Deus é capaz de um grande ato heróico que muitos não chegam nem perto: perdoar. 

O ato heróico que o cristianismo propõe é fazer diferente de tudo o que se espera. Por isso, Deus é inesperado e totalmente inusitado. A dor pode até te causar revolta e não ser esquecida, mas não pode cortar a sua relação com Deus e nem fazê-lo amargurado. Abnegar uma dor tão grande e o desejo de justiça, parece ir contra nós mesmos. Parece que estamos deixando de lado algo de tanta importância quando na verdade temos que fazer algo, não podemos deixar desse jeito. Mas na verdade, não funciona assim. 

Stott diz que o caminho de Jesus é oposto.Quando nos perdemos é que nos encontramos. Quando deixamos de fazer tanto as nossas vontades, colocamos Deus no centro e Nele conseguimos agora, com nitidez ver quem somos. Perdoar é um exercício para muito tempo. Você pode começá-lo hoje.
Hev

domingo, 13 de fevereiro de 2011

C.S Lewis Song- Brooke Fraser

Se eu encontrar em mim desejos que nada neste mundo pode satisfazer, eu só posso concluir que eu não fui feito para este lugar.
Se a minha luta contra a carne é na melhor das hipóteses apenas leve e momentânea
então é claro que eu me sentirei nua quando comparada com o lugar para onde estou destinada.

Fale comigo na luz da alvorada
Misericórdia vem com a manhã
Eu suspirarei e com toda a criação gemerei enquanto espero a esperança vir para mim

Eu sou perdido ou apenas encontrado?
No caminho reto ou na rotatória do caminho errado?
Existe uma alma que se move em mim, ela está se libertando, querendo se tornar viva?
Porque o meu conforto me faz preferir ficar dormente
E evitar o vindouro nascimento de quem eu nasci para me tornar

Fale comigo na luz da alvorada
Misericórdia vem com a manhã
Eu suspirarei e com toda a criação gemerei enquanto espero a esperança vir para mim

Porque nós, nós não estamos aqui por muito tempo
Nosso tempo é apenas um fôlego, então e melhor respirá-lo
E eu, eu fui feita para viver, fui feita para amar, eu fui feita para Te conhecer
A esperança está vindo pra me buscar
Esperança, Ele está vindo


Bom domingo,
Hev



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Estima

"Por muito tempo achei que era uma espécie de virtude ter baixa auto-estima. Fui tantas vezes prevenido contra o orgulho e presunção que acabei achando que era bom me depreciar. Mas agora compreendo que o verdadeiro pecado é negar o amor primeiro de Deus por mim e ignorar a bondade original." (Henri Nouwen)
Estou com os braços doendo demais, por isso não dá pra ficar escrevendo =/ Este trecho de Nouwen nos leva à reflexão que parece tão comum mas tão negligenciada. Por vezes nos colocamos abaixo do que Deus quer pra nós, nos punimos, deprezamos, como se isso fizesse de nós seres mais próximos Dele. Amar e cuidar de seus valores, princípios e perceber o quanto você é valoroso, torna-o um ser mais preparado para amar os outros.
Hev

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Libertos para viver

Tantos de nós podemos estar experimentando a espiritualidade do deserto. Eu não achei a citação que queria. Numa monografia coloquei uma citação que dizia mais ou menos que quando percebemos a finitude à qual todos nós estamos submetidos, somos acometidos de uma tremenda compaixão. Quando percebemos que todos temos o mesmo fim, nos tornamos mais humanos e doces.

Jesus, antes de morrer, come com os discípulos. Ele faz comunhão de mesa, fazendo assim, comunhão de vida. A ceia nos faz olhar para trás e para frente. Pra trás porque lembramos da libertação do Egito e para frente porque agora vemos que o Perfeito Cordeiro é a propiciação pelos nossos pecados. Celebramos assim, o cuidado curativo de Deus e seu grandioso perdão. Isto tudo nos faz olhar cada vez mais para frente. 

Quando Jesus pede para que a façamos em “memória Dele” deseja que sua presença sempre esteja viva em nosso meio. Ele sabia que “não beberia mais deste cálice até que o dia em que iria de beber de novo no Reino de Seu Pai.” (Lc 22.16) Nossa próxima ceia com Ele é Celestial. As bodas do Cordeiro. Em Jesus se resumem todas as cerimônias de sacrifício da Antiga Aliança. 

Isto é o que Cristo traz para nós. A esperança e o perdão. Em tempos difíceis ou alegres, devemos sempre lembrar que um dia fomos libertos para a vida.
Hev