quinta-feira, 24 de março de 2011

Castigos, final de tudo ou responsabilidade humana?


Quando eu vejo meninos e meninas sendo explorados, mulheres africanas sendo mutiladas e tendo que se redescobrir como mulher, pais se voltando contra os filhos sem nenhum pudor declarando a morte da inocência, homens se dirigindo à Bíblia como o objeto mais recente que adquiriram no mercado da fé, o desencantamento feminino, eu só vejo mais motivos para querer dormir e acordar em Deus. Assim como o sol nasce e se põe tão liturgicamente. Isto, não com um caráter fatalista, mas amando a Parusia, a volta de Cristo mesmo.

Caim deve ter estremecido quando Deus anunciou que o sangue de seu irmão clamava da terra. A terra não o aceitou, expele e profere a maldição. O solo é claramente atingido pelo pecado, ele sofre, não cala o segredo.

Na leitura veterotestamentária percebe-se a coerência entre pecado e um bem estar cósmico. ‘Adam e terra estão conectados, conferindo a ele autoridade para guardá-la e cultivar, ter domínio sobre o reino animal e ser participante ativo da criação (Gn 2.15; 1.26; 2.19,20). Freqüentemente Deus amaldiçoava o solo por causa da promiscuidade humana. Eles vendiam seus corpos ou sua adoração, e Deus cortava a fertilidade da terra ou amaldiçoava com pragas (Joel 1.18-20; Lm 1.11; Jr 49.17,18; Lv 18.25; Jr 9.10,11; 14.1-6; 23.10; 9.10; 25.36; Gn 19.24; Ex 9.14) Os pastos se secavam, os animais morriam. Deus mostra Seu domínio acima do domínio humano. Ele requer a atenção e pureza devida. Deus usa a natureza para efetuar juízo. Se entenderem isso, podem viver promessas de paz e restauração (Ml 4.6; 2 Cr 7.14).

No Novo Testamento Jesus inaugura o reino, libera a salvação a todo que crê; se importa com as chagas humanas e torna a Igreja uma comunidade militante contra a desigualdade social, fome, pobreza, indiferença. Esta Igreja é perdoada, curada, recebe a salvação em todos os âmbitos. Ela clama de maneira pessoal sem carecer de intermédio e Deus atende, mas ainda continua sofrendo as conseqüências de seus pecados. É levada a olhar para frente e deparar-se com o fim apocalíptico. Ela deve ficar atenta para não ser enganada. Os selos são abertos, os flagelos enviados e o mundo futuro é palco de destruição, fome, morte, peste e a terra em sua totalidade é atingida. 

O Apocalipse não é calendário. A escatologia não deve ser uma obsessão cristã ao ponto que chegue um anjo e nos pergunte o que estamos fazendo olhando pra cima. A realidade é aqui. O Reino é aqui e agora com forte esperança para o que há de vir. Fica claro na trajetória humana, que Deus se revela na natureza de forma bela e também terrível. Mas o homem é o maior agente de transformação da natureza, trazendo sobre si suas mudanças intempestivas. Mudanças estas, que o homem não consegue suportar. Não vamos tirar a responsabilidade do homem e colocá-la nas mãos de Deus. Deus se importa com a natureza como sua criação, mas não é o tirano que diz “agora então lançarei isto sobre eles”. Existem pessoas orando em vários pontos do mundo. Existem muitos missionários devotos no Japão, mas eles também tiveram que encontrar o luto. O Apocalipse nada mais é do que uma mensagem de urgência, alerta que aponta para o inevitável fim e para o Dia do Senhor. Nada poderá detê-lo e a dor não é privilégio apenas para os ímpios. Com exceção de algumas aflições que não chegarão aos genuínos servos do Cordeiro, a Bíblia não retira de nós o peso da morte, sofrimento e a dificuldade de, muitas vezes, ter que começar do zero novamente, reconstruindo tudo.

A Ekklesia é chamada para fora. Somos a comunidade terapêutica e comunicante do Messias que veio, nos encontrou feridos, curou nossas chagas, nos levou para uma hospedagem e disse que iria voltar. Ao passo que Cristo nos mandar ir e pregar, o foco da Igreja deve ser restaurar e ser o apoio em tempos de tão grande calamidade ao invés de ficar pontuando qual cavaleiro saiu ao encontro da terra para castigar. Há um grande perigo aí. O de se alienar da terra e ansiar incansavelmente o céu, pregando o céu, sonhando com o céu e sendo omisso com o Cristo que anda na terra.

Inevitavelmente, o mundo vai mudar e a Bíblia vai se concretizar, mas isso para nós que provamos da nova aliança, Brit Hadashah, é apenas motivo de júbilo pelo encontro com O Eterno que vamos ter e também de vigilância e trabalho, porque a seara é grande e ainda tem muita coisa pra eu e você efetuarmos aqui.

Bendito são os que amam a vinda do Senhor. Os que desejam ardentemente o dia em que vamos saber nosso novo nome numa pedra branca (Ap 2.17). Mas enquanto isso continuemos nosso trabalho, deixando a justiça divina a Seu próprio critério, e tornando-nos cada dia mais humanos, cuidando da terra, nossa origem em ‘Adam. Isso é cristianismo, isto é cidadania e o reflexo do Triuno Deus.
Hev






0 comentários:

Postar um comentário